Santo Amaro do Sul: pérola do Jacuí
O local:
Rio Grande do Sul, 1750. As terras da região eram reivindicadas por portugueses e espanhois, um dos fatores que acabariam culminando no Tratado de Madri, um acordo de distribuição das terras do Novo Mundo entre os colonizadores, que revogaria o Tratado de Tordesilhas (já que não vinha mais sendo respeitado por ambos os povos ibéricos). Desta forma, o povoamento se fazia necessário, uma vez que o tratado firmado na capital espanhola contemplava o princípio do uti possidetis, ou seja, quem tem posse, tem também o domínio. O Tratado de Madri utilizou como delimitação o Rio Uruguai para separar as terras luso brasileiras das que tinham ocupação predominantemente castelhana. No entanto, frequentes invasões de castelhanos ocorriam em terras a leste do rio, obrigando portugueses a povoar as terras gaúchas e evitar possíveis reivindicações. Foi assim que surgiram diversos núcleos de povoamento de matriz açoriana na época e quase simultaneamente: Rio Pardo, Triunfo e Santo Amaro do Sul, todos eles, às margens do Rio Jacuí, em locais estratégicos, além de Taquari, às margens do rio de mesmo nome.
Fundada em 1752, a Forqueta de Santo Amaro do Sul começou a receber os primeiros sesmeiros no ano seguinte, que se estabeleceram com suas famílias na margem leste do rio. Nas imediações, até foi construído um forte para garantir a integridade da vila. Algumas décadas depois, o vilarejo receberia inúmeras famílias açorianas, evento que faria Santo Amaro do Sul ser elevada ao status de vila ou freguesia, em 1773. Mais de 70 anos depois, seria elevada à condição de cidade e foi cortada pela ferrovia que se estendia de Porto Alegre a Uruguaiana, facilitando o acesso por terra.
Ao longo dos anos, Santo Amaro do Sul acabaria perdendo o status de cidade para a sua atual sede, na época denominada Margem, por estar debruçada às margens de outro grande rio da região: o Rio Taquari. Isso ocorreu por conta da evolução econômica da nova sede, associada à decadência da antiga. Em 1939, em virtude da instalação do arsenal de guerra, o município acabou ganhando o nome de General Câmara. Atualmente, estima-se que a população fixa de Santo Amaro do Sul não chegue a mil habitantes.
Onde fica:
General Câmara localiza-se na margem oeste do Rio Taquari, a 81 quilômetros de Porto Alegre. Seu principal acesso se dá pela RS-401, que atravessa as cidades de Charqueadas e São Jerônimo, cruzando o Rio Jacuí pela ponte Lauro Rodrigues. Ver detalhes
Já Santo Amaro do Sul situa-se às margens do Rio Jacuí, a 95 quilômetros de Porto Alegre e a 16,5 quilômetros do centro de Santo Amaro do Sul. Para chegar até lá, o caminho é pela RS-244, que inicia no entroncamento com a RS-401, próximo ao centro de General Câmara e termina na BR-287, em Santa Cruz do Sul. Nas proximidades do quilômetro 10 da RS-244, há uma saída sinalizada a esquerda. Depois de acessar a estrada para Santo Amaro do Sul, são mais 4,5 quilômetros até o pitoresco vilarejo. Ver detalhes
O que fazer:
Na ocasião da visita, a estrada de acesso a Santo Amaro do Sul estava em obras de pavimentação. Ela liga a pequena vila à rodovia RS-244. Um bom sinal.
Pouco mais de 1 quilômetro antes da vila, às margens da estrada de acesso, encontra-se o Mirante de Santo Amaro do Sul. O local, uma suave elevação cercada por belos campos e planícies, é um dos pontos turísticos de Santo Amaro do Sul e permite que o visitante tenha uma bela vista em 360 graus.
A estrutura de madeira com cerca de 4 metros de altura oferece uma linda vista.
Em um dos ângulos, é possível até enxergar o horizonte a mais de 10 quilômetros de distância, uma vez que a altitude média na região dificilmente ultrapassaos 35 metros acima do nível do mar.
No centro da vila, repousa a exuberante Igreja de Santo Amaro, cuja construção foi concluída em 1787, o que a torna a quarta igreja mais antiga do Rio Grande do Sul.
Construída em estilo clássico açoriano, com duas torres e traços que associam linhas retas com detalhes curvos, a bela igreja do século XVIII ostenta sua elegância em frente à praça de Santo Amaro.
O casario em estilo colonial resiste ao tempo, embora algumas delas estejam desabitadas há décadas.
De qualquer forma, o conjunto arquitetônico do centro da vila mais parece um museu a céu aberto.
Algumas casas são utilizadas como estabelecimentos comerciais, como esta bela exemplar, localizada na Rua Tomás Pereira, ao lado da igreja, datada do início do século XIX, onde hoje está instalado um bar.
É impossível passar pela praça e não reparar essa bela figueira, em sua margem norte, ao lado da Rua Tomás Pereira.
Embora não conste em nenhum catálogo ou guia do município, esta frondosa árvore de generosa sombra merece destaque, pois faz parte da história de Santo Amaro do Sul. Moradores locais afirmam que sua história se confunde com a de Santo Amaro do Sul, o que sugere que ela possua em torno de 200 anos!
À sombra da figueira, há um monumento em homenagem aos colonos açorianos que desbravaram a região.
Chegados geralmente de barco, subindo o Rio Jacuí, os colonos açorianos se estabeleceram na região, trazendo do Velho Continente seus conhecimentos sobre arquitetura, pecuária e agricultura.
Ao lado da figueira e do monumento ao imigrante, há a reprodução de um forte, tal como eram os fortes do exército imperial português.
Com réplica de canhões, como os utilizados no século XVIII para afugentar invasores.
Localizado dois quarteirões abaixo da praça, na Rua Venâncio Aires, ao lado do Rio Jacuí, o casarão conhecido como Primitivo Solar, cuja construção é datada do final do século XVIII, foi a residência de um charqueador escravista conhecido popularmente como Cara de Sola, famoso na região pela forma cruel como tratava os escravos sob o seu domínio. Décadas depois, no auge da Revolução Farroupilha, o casarão ainda seria utilizado como quartel de Francisco Pedro Duarte de Abreu, o primeiro e único Barão do Jacuí, também conhecido como Chico Pedro, militar do exército imperial que ajudou a combater os farrapos em suas investidas a Porto Alegre.
Este outro belo exemplar do final do século XIX, localizado na Rua da Liberdade, foi o primeiro hotel da vila, nos tempos áureos em que o trem percorria os trilhos da região e passageiros do estado inteiro transitavam por ali. O casarão fica a menos de 50 metros da praça.
As aberturas profundas, com esquadrias de madeira, já possuíam linhas mais sóbrias, sem as tradicionais curvaturas na parte superior.
Outro prédio que ajuda a contar essa história é a antiga estação ferroviária de Santo Amaro do Sul. Inaugurada em 1883, ela funcionou até 1961, quando a ferrovia deixou de ser utilizada para transporte de passageiros. Embora os trilhos já não existam mais, sua essência permanece.
Às margens do Rio Jacuí, encontra-se um balneário, que durante o verão, é disputado por banhistas e pescadores.
Poucos metros àdiante, encontramos esta singela residência do século XVIII.
Com suas linhas simples, ela pertenceu a uma das primeiras famílias de colonos açorianos, menos abastados, que habitaram o local e permanece com boa parte de sua originalidade.
Em frente à praça de Santo Amaro, na Rua da Liberdade, encontra-se o conjunto onde funciona o Centro de Atendimento ao Turista e também um pequeno museu.
Foram algumas das primeiras casas a constituir a Forqueta de Santo Amaro, no século XVIII, juntamente com o casarão construído atrás da igreja, onde nasceu José Gomes de Vasconcelos Jardim. Conhecido popularmente como Gomes Jardim, o herói farroupilha foi o primeiro presidente da República Rio-Grandense.
Trata-se de um prédio público, onde funcionou a Intendência de Santo Amaro, o equivalente à Prefeitura, nos dias atuais.
As espessas paredes de pedras e argila de rio são marcas registradas na arquitetura colonial açoriana.
Na parede, um grande tapete típico açoriano encontra-se exposto.
Para exibir sua originalidade, uma parte do revestimento foi removida, expondo a estrutura rústica da parede.
No pequeno museu, há diversos objetos da época expostos, desde utensílios de uso doméstico, até trajes típicos açorianos. Também é o lugar onde você pode aquirir uma lembrancinha.
Na casa ao lado do CAT, há até a reprodução de uma cena da época da Revolução Farroupilha. Os tradicionais bolichos eram estabelecimentos comerciais onde se podia fazer uma refeição, beber ou até comprar mantimentos e tabaco.
Aqui, as portas da história estão abertas para quem quiser visitá-la!
Outra atração de Santo Amaro do Sul, a Barragem de Amarápolis, não estava acessível na ocasião da visita. De qualquer forma, poderemos abordá-la, assim que houver a oportunidade da visita.
A singela vila de Santo Amaro do Sul, parece ser extremamente pacata, mas conta com um calendário de eventos que movimenta a região. Na semana do dia 15 de janeiro, ocorre a romaria acompanhada de eventos festivos em honra ao padroeiro do distrito. No início de abril de cada ano, ocorre um evento chamado Santo Amaro em Portugal, um festival que resgata as raízes de seus colonizadores, com apresentações, música e gastronomia típica açoriana. Outros eventos menores complementam o calendário.
Santo Amaro do Sul, o vilarejo gaúcho que virou cidade e que voltou a ser vila, mas que nunca perdeu o charme e o esplendor. Um local ideal para se visitar num final de semana, naquele famoso bate-volta, ou até mesmo para pernoitar, caso você busque um lugar sossegado para recarregar suas baterias, afinal, possui uma pousada e restaurantes.
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Até a próxima!
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