A nova velha ponte está de volta!
A icônica ponte metálica da ERS-448, entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, está de volta, tão elegante quanto a antiga, que havia sido inaugurada em 1930. Na época, as estradinhas estreitas da região recebiam basicamente o tráfego de carroças e cavalos. A ponte chamava a atenção por sua estrutura treliçada, apoiada nas cabeceiras e em um pilar central de pedra. Constituída por dois vãos de 62 metros de comprimento e 22 metros de altura em relação ao rio, ela tinha capacidade para receber até 24 toneladas. As treliças metálicas originais foram trazidas da Europa e sustentavam um assoalho de concreto armado, cuja largura não permitia o tráfego simultâneo de veículos nos dois sentidos. Inaugurada com o nome de Ponte Getúlio Vargas, o nome não vingou e a comunidade a chamava apenas de Ponte Metálica. Enfim, ela representava mais do que um simples acervo histórico e um cartão postal, mas também fazia parte do principal acesso ao município de Nova Roma do Sul e já havia sobrevivido a diversas enchentes.
Eis que entre os dias 2 e 5 de setembro de 2023, o Rio Grande do Sul viveu a pior enchente já registrada em sua história, provocada por um ciclone. Na ocasião, em poucas horas, as partes altas do estado (Planalto Médio, Serra e Aparados da Serra) receberam um alto volume de chuva em um curto espaço de tempo, algo em torno de 400 mm, distribuída ao longo de uma área de cerca de 25 mil quilômetros quadrados (CPTEC/INPE). Toda a água resultante dessa precipitação desceu e convergiu para a bacia do Rio das Antas e do Rio Taquari. Como consequencia, o nível de todos os rios que compõe a bacia subiram consideravelmente. No dia 04 de setembro de 2023, o Rio das Antas chegava a níveis nunca vistos antes, subindo mais de 20 metros em alguns pontos de seu leito acidentado, o que provocou severos danos a casas, pontes e estradas. Ouvimos relatos de moradores locais, dentre eles, o de um morador de Nova Roma do Sul, que afirma que ao longo de seus mais de 80 anos, nunca havia visto o Rio das Antas subir tanto! Segundo ele, o rio nunca havia coberto a ponte.
Logo após a queda da ponte, os cidadãos de Nova Roma do Sul se organizaram e formaram a Associação Amigos de Nova Roma do Sul, uma organização privada sem fins lucrativos com o intuito de reconstruir o principal acesso à cidade de forma mais célere possível.
A iniciativa ocorreu em virtude da previsão da entrega da nova ponte, dada pelo Governo do Estado, que prevê novas dimensões e posição na diagonal em relação ao leito do rio. Isso iria condenar a cidade ao semi-isolamento por cerca de 2 anos, até a conclusão da obra. O acesso secundário ao município, pavimentado recentemente, é a extensão norte da RS-448 e a RS-437, através da cidade de Antônio Prado. A distância maior e a presença de pedágios nesse caminho inviabilizaria a logística da colheita de uva, por exemplo. Além disso, o pequeno município tem no turismo uma das suas principais atividades econômicas. Essa atividade foi severamente prejudicada após o colapso da velha ponte. Muitos moradores acabariam deixando a cidade para buscar novas alternativas.
Durante a campanha de arrecadação de recursos para a viabilização da reconstrução da ponte, foram realizados eventos sociais, almoços, jantas, rifas, doações, mobilização de empresas e artistas. Os recursos arrecadados foram geridos pela Associação Amigos de Nova Roma do Sul, tendo os números divulgados em tempo real em seu site.
No dia 20 de janeiro de 2024, 138 dias após aquele fatídico episódio, a nova ponte foi entregue à comunidade. A inauguração foi realizada com um ato solene e muita emoção, ocasião em que até ônibus gratuitos foram disponibilizados de hora em hora, para transportar os moradores de de Nova Roma do Sul ao evento. No empreendimento, não foram alocados recursos públicos, o que mostra a força, solidariedade e resiliência do povo envolvido! A estrutura foi batizada de Ponte Nossa Senhora de Caravaggio, uma homenagem à padroeira da região.
As treliças foram construídas por uma empresa gaúcha, mantendo as mesmas características da ponte antiga.
Para viabilizar a movimentação dos materiais e estruturas da ponte, algumas vias foram abertas ao lado do leito do rio.
A ponte atual foi elevada em cerca de 1,8 metro. Isso dará mais espaço para a vazão do rio, em caso de novas enchentes.
Ao lado, repousam os destroços da antiga estrutura de 93 anos. Ainda é possível ver o nível em que o rio chegou, pela linha formada pela vegetação inclinada e retorcida.
Agora, a cidade de Nova Roma voltou a receber visitantes de diversas origens, do estado e de fora, pelo seu dom natural ao turismo e agora graças a um fato novo. A ponte construída por ação popular ganhou as manchetes da mídia nacional.
Com a elevação da ponte, as cabeceiras tiveram que receber rampas de concreto para o nivelamento. Ela segue sendo de sentido único, mas não chega a ser um problema. A maioria das pessoas que transitam por ali não se incomodam em aguardar a oportunidade de passagem e até aproveitam para descer do veículo, admirar a paisagem e fotografar. À noite, a Ponte Nossa Senhora de Caravaggio fica toda iluminada.
No período da vindima, muitos caminhões transitam pela rodovia, escoando a produção de uvas das propriedades rurais da cidade de Nova Roma do Sul até as indústrias da região. Alguns até passam buzinando, numa demonstração de satisfação e alegria!
O caminho foi restabelecido, mesmo assim, as enchentes deixaram cicatrizes. Ao trafegar pelo trecho de serra da RS-448, é possível visualizar diversos pontos onde a encosta deslizou e que se mantêm sucetíveis a novos deslizamentos em períodos chuvosos.
Se ainda não conhece Nova Roma do Sul, inclua-a em seus próximos destinos! Você irá se surpreender com o bucolismo, hospitalidade e belezas naturais dessa pequena cidade do coração da Serra Gaúcha!
Até a próxima!
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