A histórica Santa Tereza: heranças do Império
O local:
Segunda metade do século XIX, o Brasil ainda era um Império, os Estados eram Províncias e as Prefeituras, Intendências. O transporte fluvial era o mais utilizado e a única forma de chegar a alguns lugares remotos do país. Eis que um balseiro que conduzia sua embarcação pelas águas do Rio Taquari, enxergou na foz do Arroio Marrecão uma oportunidade de fundar uma colônia. Iniciava ali a trajetória de uma pitoresca cidade gaúcha.
Localizada no encontro das águas do Arroio Marrecão com o Rio Taquari, em um local cercado pelos morros da Serra Gaúcha, a pequena cidade de Santa Tereza esbanja beleza e simpatia. Batizada de Tereza, durante o governo imperial, por um agrimensor que fazia o traçado dos lotes coloniais da região, a cidade ganhou o "Santa" do padre Don Giosue Bardin, primeiro pároco da cidade, após a Proclamação da República e assim foi registrada. Não se sabe, ao certo, qual Tereza estava sendo homenageada pelo agrimensor, sua própria esposa, ou se era referência a Teresa Cristina das Duas Sicílias, esposa do imperador Don Pedro II. Também não se sabe, ao certo, sobre a motivação da mudança do nome da vila, se era para passar a homenagear a santa com mesmo nome ou simplesmente apagar o legado do governo imperial.
De qualquer forma, as heranças do Império Brasileiro seguem espalhadas pela cidade, nos nomes de algumas comunidades do interior, que fazem menção aos nomes de algumas autoridades máximas da época.
O fato da Vila de Santa Tereza ter sido fundada neste ponto, bem ao lado do Rio Taquari, deu-se pelo fato de que o rio de grande porte era uma importante via de transporte, por ser navegável, rota dos balseiros, uma vez que não existiam estradas e o transporte terrestre era precário.
Em 1992, 107 anos após o batismo da Villa de Santa Thereza, ocorria a emancipação política, tornando este cantinho mais baixo da Serra Gaúcha, o município de Santa Tereza. Atualmente, o município possui cerca de 1800 habitantes e IDH de 0.825, um dos mais altos do Brasil. Sua arquitetura é carregada de elementos trazidos da região norte da Itália, uma vez que seus principais colonizadores vieram daquela região, especialmente do Vêneto, Trentino, Lombardia e Venezia. Na ocasião, também se instalaram na região alguns imigrantes oriundos da Pomerânia, hoje pertencente à Polônia. (Fonte: PM Santa Tereza)
Onde fica:
Santa Tereza localiza-se na encosta leste da Serra Gaúcha, a uma distância de 146 quilômetros de Porto Alegre. O principal acesso ao município é a RS-444, rodovia que inicia em Bento Gonçalves e atravessa o Vale dos Vinhedos. Ver detalhes
O que fazer:
Trafegando pela RS-444, após atravessar o belíssimo Vale dos Vinhedos e passar pelo acesso a Monte Belo do Sul, há um trecho de cerca de 14 quilômetros de declive, para vencer pouco mais de 500 metros de diferença de altitude, até chegar ao vale do Rio Taquari e à bucólica Santa Tereza. Pouco antes de deixar a RS-444, já dá para avistar a bela torre da Igreja Matriz, a estrutura mais alta da cidade. Já no centro da cidade, placas indicam que esta não é uma cidadezinha comum.
No centro da cidade, dentre diversas edificações históricas, encontra-se a Casa Prezzi. Construída em 1905 pelos irmãos trentinos Giovanni Battista e Giovanni Andrea Franceschini, o casarão de 3 pavimentos servia como residência e mercearia. Cerca de 30 anos depois, o imóvel foi adquirido pela família Prezzi, que deram continuidade ao comércio.
A Casa Lahude é uma edificação de 1915, construída por Ferdinando Ferronatto, italiano do Vêneto. Na época, o pavimento inferior era utilizado como estabelecimento comercial, enquanto que o superior era um salão de bailes. Até hoje, mantém as características dos tradicionais armazéns de secos e molhados.
Cada casarão do Centro Histórico carrega uma rica história. Se contássemos cada uma delas, daria para escrever um livro.
Na Avenida Itália, há diversos casarões que hoje são tombados como Patrimônio Histórico, incluindo o da sede da Prefeitura. Não por acaso, Santa Tereza já foi até cenário de filme.
O imponente casarão que serve como sede da Prefeitura Municipal de Santa Tereza, foi construído em 1911, pela família Stringhini, oriunda de Cremona, na Itália. Na edificação de arquitetura eclética, funcionava um comércio de produtos em geral, uma fábrica de artefatos de couro e até um banco. A decadência do estabelecimento ocorreu na década de 60, época em que o casarão foi abandonado. Somente na década de 90, foi revitalizado e passou a ser utilizado pela Prefeitura no início dos anos 2000.
A exemplo de algumas casas da região, que resistiram ao tempo, não podia faltar uma bela casa de madeira, em estilo rústico. O Centro Histórico de Santa Tereza conta com diversas casas tombadas pelo IPHAN, como Patrimônio Histórico. Mas não são só as casas, o traçado das ruas e a paisagem urbana também foi incluído neste tombamento, não podendo sofrer alterações. Essa iniciativa garantiu ao município um ar nostálgico e bucólico.
O campanário da Igreja Matriz, localizado junto à Praça Massimiliano Cremonese, é uma bela torre de 45 metros de altura.
Trata-se de uma réplica da torre Fagaré Dela Bataglia, localizada em Treviso, na Itália.
A torre brasileira foi construída por Massimiliano Cremonese, italiano de Cremona, que anos depois, deu nome à praça da cidade. A igreja matriz original foi demolida e reconstruída na década de 60 do século XX. Uma pena que não mantiveram suas características originais.
Junto ao centro da cidade, na Rua Marechal Deodoro, encontra-se a Ponte Pênsil sobre o Arroio Barramansa, conhecida popularmente como Pinguela Santa Tereza. O Arroio Barramansa é um dos córregos que cortam a zona urbana do município, desaguando no Arroio Marrecão, pouco antes de chegar ao Rio Taquari.
Originalmente construída em 1917, a ponte facilitava o fluxo de pessoas e as atividades do moinho localizado ao lado do arroio, o Moinho Valduga. A pinguela balança um pouco, como qualquer ponte pênsil, mas é segura.
Na Avenida Itália, a um quarteirão de distância da Igreja Matriz, encontra-se a Ponte Metálica, construída sobre o Arroio Marrecão também para o tráfego de pedestres.
Esta não balança como a Pinguela, mas isso não tira a emoção do passeio.
A vista de cima da ponte é muito bonita.
A 300 metros de distância da Igreja Matriz, encontra-se o Parque Municipal de Santa Tereza. Um local inspirador!
Além dos canteiros floridos do parque, ao lado você pode ver que há animais pastando, uma cena típica do interior.
Enquanto que se você olhar para o outro lado, verá o majestoso Rio Taquari. A paisagem é incrível!
É o bucolismo em sua essência, desenhado pelas águas e montanhas.
Após admirarmos o Centro Histórico, seguimos para a Capela São Bento. O interior do município revela algumas paisagens esplendorosas, como esta, às margens de uma estrada pavimentada, junto ao Capitel São José.
A localidade de São Bento fica a mais de 400 metros de altitude, ou seja, bem acima do nível do centro da cidade. Já dá para imaginar o que fomos procurar neste local que sequer consta no mapa como ponto turístico.
A bela igrejinha da comunidade foi construída no início do século XX. Ao chegarmos, fomos cordialmente recepcionados por alguns moradores, que conversavam em frente ao salão. Uma roda de amigos da melhor idade, usando o Talian para se comunicar.
A nossa anfitriã não soube precisar o ano de construção da igreja, apenas detalhou o procedimento utilizado. A madeira utilizada na construção foi beneficiada na própria cidade e transportada morro acima, com veículos de tração animal, até o local.
O interior da singela igrejinha é simples, mantendo as características das pequenas igrejas de madeira construídas pelos italianos, com direito a teto abobadado e capelinha de madeira esculpida.
A pequenina igreja surpreende nos detalhes. A área do coro da igreja fica sobre a porta e é sustentada por 5 mãos-francesas. Claro que possui uma restrição do número de componentes do coro.
O azul da igreja até parece se misturar com o do céu! Deste ângulo, a vista do vale é incrível!
Alguns metros estradinha acima, conseguimos um bom ângulo para visualizar o Rio Taquari e a cidade de Santa Tereza.
E até as palmeiras parecem emoldurar esta linda paisagem!
Patrimônio a parte, o que torna o município de Santa Tereza ainda mais interessante para o visitante é a receptividade de seus moradores. Chegar à pequena mercearia e conversar com o proprietário, como se fosse um velho amigo, escutar dele histórias fascinantes sobre a cidade, tudo isso está implicitamente incluso ao Patrimônio Histórico e Artístico deste cantinho do Rio Grande do Sul, que insiste em desafiar a passagem do tempo. Cidade que, além de ostentar seu italianismo, ainda carrega traços do Brasil Imperial, em nomes de localidades como a Linha Leopoldina, ou a Linha Barão de Capanema.
Santa Tereza também guarda algumas histórias curiosas, como a da primeira fábrica de acordeons do Brasil, fundada por Cesare Appiani e Maria Savoia, o início do século XX. A Casa Ferri, que serviu de sede para a fábrica de acordeons, teve outros donos, com o passar dos anos, até ficar abandonada e passar por restauração em 2014.
Na ocasião, deixamos de visitar alguns pontos turísticos de Santa Tereza, como a Cachaçaria Velho Alambique, a Gruta de Nossa Senhora da Uva e a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Eis mais um motivo para retornarmos a esta encantadora cidade!
Este e outros vários destinos da nossa região também estão em nossa página no Facebook. Acesse e confira!
Até a próxima!
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